Por: Felipe Alcântara
Publicado em: http://www.91rock.com.br
Postado dia 16 de julho de 2008
Quem está acostumado com os inúmeros programas de foto e desenho deve achar relativamente “fácil” fazer um layout ou distorcer fotos comuns para deixar os amigos comprometidos. Com um pouco de dedicação e alguns cliques, “voilà”: o trabalho está concluído e impresso. O problema é que, às vezes, as facilidades proporcionadas pela tecnologia se voltam contra o criativo que faz uso constante delas. E aí, com tanta acessibilidade a recursos capazes de criar o imaginável e o inimaginável, fico me perguntando onde fica o reconhecimento e a valorização que todos nós devemos aos grandes mestres que romperam padrões estéticos e produziram obras impressionantes sem nenhum dos recursos tecnológicos que utilizamos hoje. Dalí foi um deles, um homem visionário e progressista, além de um grande ilusionista: ele concretizava imagens surreais com os mais simples artifícios, e com isso conseguia intrigar qualquer pessoa que observasse sua obra.
Numa de suas mais famosas fotos, Atomicus, Dalí mostrou o quanto estava a frente de seu tempo ao construir um universo extraordinário com elementos em movimento simultaneamente, em um espaço de tempo muito curto. Ele compôs sua foto com muito pouco: três gatos delicadamente arremessados, um balde de água e a assistência da esposa do fotógrafo, que segurava uma cadeira aparentemente flutuante. Mesmo assim, da forma mais simples, o efeito obtido foi máximo. E sem Photoshop. Difícil dizer o que mais encanta nessa imagem; se é o cenário fantástico que impressiona a quem admire, ou se é a extrema criatividade com que foi feita.
Por falar em criatividade, acho que às vezes ela é aquilo que falta nos nossos dias, já que não precisamos mais reinventar nossa própria realidade para criar obras que fujam do senso comum. Afinal, ele é o grande terror de todos os que pretendem fazer algo inovador ou mesmo conceitual. Acho que é nessas horas que vale a pena repensar certos pontos de vista. Como se pode impressionar alguém com um cenário irreal, se essa pessoa percebe instantaneamente que aquilo é artificial e foi produzido de uma forma plástica? Se observarmos bem, a própria depreciação da arte já é um reflexo claro da pobreza e do esgotamento de idéias que inunda o trabalho de criativos e artistas, reforçada pelas “facilidades” que os recursos tecnológicos trouxeram consigo. Muitas vezes não valorizamos a arte porque não sabemos o que fazer com o legado que ela nos deixa, então não conseguimos apreciá-la nem extrair dela aquilo que ela possui de melhor. Não aprendemos com ela se não podemos admirá-las.
Por isso, quando olho essa foto, fico pensando como Dalí se sentiria hoje, sabendo que a tecnologia criou recursos tão ágeis e precisos para fazer um trabalho que ele construiria apenas com os recursos de sua própria criatividade e genialidade. Pensando bem, provavelmente ele não se importaria. Do alto de sua sabedoria artística, seria fácil para Dalí perceber que um trabalho mêcanico jamais se equivale a uma grande obra.
Um agradecimento especial a minha queridíssima Natália Florencio.
sexta-feira, 20 de março de 2009
Um precursor do mundo sem Photoshop
Publicado por
Eduardo Chaves
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Notícias
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1 comentários:
uma pequena correção. essa foto não é do dali, ela é do fotógrafo russo philippe halsman, que tirou vários outros retratos do dali e de outros artistas e personalidades. halsman com essa foto conseguiu mostrar dali dentro de seu universo pictórico. pelo texto parece que a foto é um auto-retrato de dali, o que não é nada verdade. outro retrato de dali feito por halsman muito famoso é o "dali skull", de 1951. o halsman é um dos grandes fotógrafos dos anos 40-60.
e essa versão da foto publicada foi retocada. aqui você pode ver a versão original: http://bit.ly/4eEUN8
nessa dá para ver os fios e a mão de um dos ajudantes. a modificação de uma fotografia existe há muito tempo, bem antes do photoshop. com pincéis, lupas, estiletes e muita coordenação motora se fazia muita coisa.
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