Fonte: Portal Photos
Agosto é mês de A Gosto da Fotografia na Bahia.
Texto de seu idealizador, Marcelo Reis, retrata o festival
Criado em 2004, o A Gosto da Fotografia, festival organizado e realizado pelo Instituto Casa da Photographia de Salvador, teve em cinco anos consecutivos, um constante crescimento em todos os aspectos no que diz respeito a sua estrutura funcional. Cresceu em atividades e em reconhecimento. Cresceu na capacidade de lidar com a complexidade de se realizar um festival que ultrapassa fronteiras, ano após ano, em um estado marcado pela cultura do som e dificuldade de manter viva a própria identidade. Em Salvador a imagem é pouco vista. A fotografia é pouco pensada.
Reunidos nos principais museus e galerias da cidade de Salvador, o A Gosto da Fotografia, em sua 5ª edição, é marcado por três importantes ações. A primeira por trazer a Bahia, graças à parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o maior projeto de fotografia do país já realizado em comemoração ao ano da França no Brasil: um time de nomes consagrados que nos sinaliza toda a intensidade e miscigenação de um país chamado Brasil. Num segundo momento temos a presença de um dos maiores fotógrafos que a Bahia já teve conhecimento, se é que teve: Voltaire Fraga. São imagens de uma cidade esquecida junto à sua própria história e à história na vida desse artista. E por fim, o ingresso do festival na REFLA – Rede de Festivais e Encontros de Fotografia da América Latina.
Nesta edição damos continuidade à pesquisa, e ao dialogo entre identidade e memória, tendo como curador o jornalista Diógenes Moura. São fotos de interiores, fotos de dentro do mar, de monumentos em ruínas, de uma vida cotidiana que cruza o tempo entre 1935 e 2009. É um festival marcado por uma crise mundial e por uma possibilidade de criar, a partir de encontros com pensadores, documentários realizados pelo fotógrafo Jean Manzon entre as décadas de 1960 e 1970 e por oficinas. Um festival ao gosto da fotografia. Um festival, A Gosto da Fotografia.
Uma programação distinta
Concebida pela Pinacoteca do Estado de São Paulo e pelo seu curador de fotografia, Diógenes Moura, que desde 2008 é curador convidado do A Gosto da Fotografia, a exposição À Procura de um olhar – fotógrafos franceses e brasileiros revelam o Brasil, teve no dia de sua abertura no museu em São Paulo, onde foi estreada em cinco salas, cerca de 4.500 visitantes. Em Salvador, o projeto marca as comemorações do ano da França do Brasil, e também a abertura do festival. A exposição que ocupa o Palacete das Artes Rodin Bahia é constituída inicialmente por um núcleo histórico, representado por fotografias de Jean Manzon, Marcel Gautherot e Pierre Verger. Franceses de vida brasileira que documentaram o Brasil e muito particularmente a Bahia, durante as décadas de 1940 até 1970. Pierre Verger que viveu na Bahia até a sua morte, em 1996, é também o único fotógrafo a ter participado de todas as edições do festival. Ainda neste núcleo, temos a obra do pensador, homenageado do projeto, Claude Lévi-Strauss, que viveu em São Paulo durante os anos de 1935 e 1937.
Ao lado dos franceses do núcleo histórico, temos as fotografias de outros três franceses que visitaram o Brasil em períodos recentes e desenvolveram suas séries especialmente para o projeto. Antoine D’Agata, Bruno Barbey e Olivia Gay. Dos três, Bruno Barbey é o único que apresenta fotografias de uma época menos recente datada da década de 1960. As imagens revelam um outro ponto de vista, um outro Brasil, um Brasil que se irmana. As fotografias desses franceses se unificam aos olhares dos três fotógrafos brasileiros que convivem dia a dia com nosso clima nacional e diverso: São eles: Luiz Braga, Mauro Restiffe e Tiago Santana.
Ainda no Palacete das Artes Rodin Bahia, Salvador vai se reencontrar. A exposição Abundande Cidade - Dessemelhamte Bahia, do baiano Voltaire Fraga, homenagem do A Gosto da Fotografia, mostra imagens produzidas a partir da década de 1928. Voltaire Fraga teve parte de seu arquivo perdido em uma forte chuva em sua residência no centro da cidade e o que ficou, cerca de dois mil negativos, foram suficientes para demonstrar a relação afetiva que o fotógrafo tinha com a cidade que calmamente se transformava. Uma cidade que se revelava através de suas lentes e que jamais seria reencontrada. Apesar da importância de sua obra, essa é a primeira grande exposição do fotógrafo na Bahia.
Dando seqüência à programação, o Festival apresenta na Galeria Acbeu, a exposição O Porto da Barra do fotógrafo francês Marc Dumas. Foi no Porto da Barra, que Marc Dumas mergulhou junto a sua câmera para encontrar personagens que se multiplicaram em momentos de descontração em seus mais variados recantos.
As fotografias exibidas na Galeria do Conselho de Cultura do Estado da Bahia, de Iêda Marques, baiana de Boninal na Chapada Diamantina, mostrada em Luz do Interior é um ensaio produzido a partir do seu acervo constituído de registros datados de 1988 até 2009. São retratos de festas de casamentos, manifestações religiosas como a Festa de Reis, o interior das casas com suas cozinhas e seus fogões à lenha, que bem marcaram o trabalho da fotógrafa, e que agora, numa seleção especial, demonstra toda uma relação de vida e os dias do seu povo.
Quase que na mesma época em que Iêda Marques registrava um tempo que parecia não passar, a fotógrafa Vania Toledo registrava um tempo que muitos gostariam que ainda fosse presente. Na mostra Diário de Bolsa – Instantâneos do Olhar, atualmente em cartaz na Galeria Solar Ferrão, do Pelourinho, Vania Toledo revela o seu encontro com personagens famosos e anônimos que marcaram a vida cotidiana e a noite do Brasil e no exterior.
A Construção de Uma Memória, do fotógrafo Sérgio Benutti, encerra o núcleos de exposições do A Gosto da Fotografia e mostra o que não queremos ver. O abandono do nosso patrimônio material. No percurso de mais de duas décadas, o fotógrafo documentou o abandono e o processo de restauração dos mais importantes monumentos históricos de Salvador. A mostra propõe um diálogo entre memória e esquecimento. São fotografias produzidas entre 1980 e 2008 e que poderão ser vistas na galeria do Museu da Santa Casa de Misericórdia da Bahia. A mostra expõe a série de fotografias que nos alertam para a perda da nossa própria identidade, da nossa própria memória.
Além das exposições, o A Gosto da Fotografia ainda terá uma série de entrevistas com os fotógrafos Luiz Braga, Tiago Santana e Vania Toledo que serão entrevistados por Adenor Gondim, Diógenes Moura e Arlete Soares, respectivamente, e palestras com o pesquisador Rubens Fernandes Junior e o fotógrafo e crítico Eder Chiodetto que se apresentam no auditório do Palacete das Artes Rodin Bahia. Também serão realizadas as oficinas do projeto Câmera Lata, mantido pelo Instituto Casa da Photographia, que nesta edição tem parceria com a Pracatum, associação cultural idealizada pelo músico Carlinhos Brown e que assiste crianças do bairro do Candeal em Salvador.
Todas as atividades do festival são gratuitas e limitadas à capacidade do espaço.
• Marcelo Reis é fotógrafo, diretor do Instituto Casa da Photographia e do A Gosto da Fotografia.
Veja mais em www.agostodafotografia.com.br
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