Por: Luciane Mediato
Do Diário do Grande ABC
Foto: Divulgação
Filho de traficante e criado na favela. Esse é o enredo da vida do fotógrafo carioca Maurício Hora, 42 anos. Em suas memórias de infância estão registradas visitas ao pai na prisão. A história é contada pelos traços do quadrinista André Diniz na HQ biográfica 'O Morro da Favela' (Editora Barba Negra, 128 páginas, R$ 39,90).
Diniz retrata em preto e branco os tons acinzentados do cotidiano de Maurício. Sua relação com extremos como policiais e bandidos, prisão e a liberdade e o contraste entre morro e asfalto.
"Sempre tive vontade de contar a história de alguém. Tem gente que quando começa a falar sobre a vida, você pensa: ‘Nossa, daria um filme'. Era uma ideia antiga pegar um relato desses, de alguém anônimo, e transformar não em cinema, mas em HQ. Quando comentei isso com meu cunhado (o produtor cultural Neko Pedrosa), ele me contou sobre o Maurício, fotógrafo reconhecido, mas ainda um anônimo quando se tratava da sua vida pessoal", conta o desenhista.
Hora, morador do morro da Providência, foi o primeiro a clicar a favela durante a noite, quando o território estava sob domínio dos traficantes. O registro entrou para a história da cultura carioca, assim como o projeto 'Favelité', feito com o fotógrafo francês J.R., que retratou o cotidiano da comunidade em 2009. Trajetória que se assemelha à do personagem Buscapé em 'Cidade de Deus' (2002). Ambos encontraram refúgio de um ambiente violento atrás das lentes fotográficas.
A biografia de Hora teve momentos insólitos. Ele chegou a dividir o quarto com travesti que a mãe acolheu. O pai, um dos primeiros traficantes do Rio, também rendeu causos. Conhecido como seu Luizinho, colocava estalinhos no chão para ouvir a chegada da polícia e era até assaltado à mão armada pelos ‘clientes'.
"Não tive dificuldade para conseguir fazer a história. Contatei o Maurício e ele recebeu a ideia da graphic novel de braços abertos. Na nossa primeira conversa, já tive certeza de que dali viria um livro sensacional", lembra Diniz.
O processo de criação de 'O Morro da Favela' demorou cerca de um ano entre entrevista e ilustração. "Eu e Maurício nos encontramos várias vezes quando o entrevistei sobre sua vida pessoal, sua família, a trajetória de seu pai, sua carreira de fotógrafo e sua visão particular da vida no morro da Providência. Ele me apresentou cada cantinho do morro, onde também pude conhecer pessoas incríveis. Cheguei a entrevistar outros moradores da Providência enquanto ainda não tinha definido a linha do livro, mas acabei no final focando na vida do Maurício e da sua família", explica.
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