Fonte: Folha
As câmeras fotográficas digitais precisaram de pouco mais de uma década para aniquilar a tecnologia analógica e provocar uma revolução no comportamento do consumidor. Em 2011, os brasileiros vão comprar 5,1 milhões de máquinas digitais, segundo estimativa da consultoria GfK Retail & Technology.
O número é 17% superior ao do ano passado e inclui apenas o mercado formal --o que significa que o número real de equipamentos vendidos pode ser até duas vezes maior, graças à disseminação de produtos contrabandeados. "O mercado brasileiro está crescendo muito acima da média mundial, que este ano vai ficar em 4%", diz Alex Ivanov, diretor de negócios da GfK.
Executivos ouvidos pela Folha acreditam que as vendas deverão continuar evoluindo a um ritmo próximo dos 20% até 2016, pelo menos. Segundo a GfK, o país vem ganhando importância em relação ao total de vendas globais de câmeras. Neste ano, o mercado local deverá absorver o equivalente a 3,5% da produção mundial, estimada em 144 milhões. Dois anos atrás, a fatia brasileira do bolo foi de 2,3% em um universo de 130 milhões de unidades.
NOVA CLASSE MÉDIA
A principal responsável pelo crescimento acelerado do mercado é a suspeita de sempre: a nova classe média, que tem hoje à disposição equipamentos de boa qualidade por preços a partir de R$ 249 em parcelas a perder de vista. "Até 2013, a classe C, que tinha uma participação insignificante há alguns anos, deverá responder por 35% do mercado", diz Thiago Onorato, gerente da área de imagem digital da Sony. Cinco anos atrás, era difícil encontrar um produto minimamente confiável por menos de R$ 800. "Os preços estão menores, e os equipamentos têm hoje características cada vez melhores", diz Henrique de Freitas, gerente de vendas da Samsung.
Os preços caíram por uma conjunção positiva de fatores: o barateamento dos componentes que ocorre naturalmente quando uma tecnologia se massifica; a queda acentuada do dólar em relação ao real; e a chegada de novos competidores ao mercado, muitos dos quais passaram a produzir na Zona Franca de Manaus. Hoje, no Brasil, há 38 marcas e 430 diferentes modelos à disposição do consumidor no país, segundo a GfK. Parece muito? "Tem espaço para todo mundo", diz Ivanov.
A japonesa Nikon, por exemplo, resolveu se instalar diretamente no Brasil em abril deste ano, após mais de 50 anos de atuação por meio de representantes. "Desenvolver-se no mercado brasileiro e nos demais países emergentes é hoje uma prioridade para a Nikon", diz Koji Maeda, presidente da empresa no país. Reconhecida no mundo todo pela qualidade dos equipamentos profissionais, a Nikon diz estar atrás de consumidores de todo tipo no país --incluindo, é claro, a classe C. "Temos máquinas com preços entre R$ 249 e R$ 50 mil", diz Maeda.
Nem a onipresença dos telefones celulares com câmeras embutidas é capaz de abalar as vendas. "O celular não faz concorrência direta para a máquina fotográfica", diz Cristiano Andrade, gerente de marketing da Olympus. "Pelo contrário, ele traz muita gente para o universo da imagem. A pessoa começa a fotografar no celular e logo sente a necessidade de um equipamento de melhor qualidade." Celulares são usados normalmente para registros rápidos, descompromissados. "Mas ninguém deixa de levar uma câmera de verdade quando vai fazer a viagem dos sonhos ou registrar o nascimento de um filho", diz Roberta Vieira, analista de produto da Panasonic do Brasil.
O ânimo inabalável dos fabricantes com o mercado local se deve principalmente à enorme quantidade de lares brasileiros que ainda não possui sequer um equipamento fotográfico (excluídos os celulares, é claro). Não há um número preciso, mas estima-se que pelo menos metade das famílias ainda não tem a própria máquina. "Os aparelhos de DVD já estão em 70% dos lares. Dá para chegarmos pelo menos ao mesmo nível com as câmeras digitais nos próximos anos", diz Andrade, da Olympus.
EVOLUÇÃO
Além de chegar aos domicílios, os fabricantes têm como meta colocar uma câmera na mão de cada habitante da residência. A mudança radical de hábitos que a tecnologia digital trouxe tornou a meta bastante factível. "Na era analógica, as famílias tinham apenas uma câmera, que era compartilhada por todos", diz Roberta Vieira, analista de produto da Panasonic do Brasil. "Hoje a máquina fotográfica é de uso individual. Além do pai, a mãe e os filhos também têm ou querem ter seu próprio equipamento."
O avanço das redes sociais na internet também contribui para o fenômeno da onipresença da câmera fotográfica. Afinal, uma boa parte da informação publicada pelos usuários de serviços como Facebook, Orkut e Twitter (sem falar no Flickr, que é próprio para publicar fotografias) é baseada em imagens.
Quem acompanhou os primórdios da fotografia digital não podia imaginar o tamanho da revolução que viria pela frente. Os primeiros modelos que dispensavam o filme, lançados comercialmente no final dos anos 1990, eram caros e rudimentares --a Sony Mavica, por exemplo, utilizava disquetes de 1,4 Mbytes para armazenar as precárias imagens que captava (essa quantidade de dados é insuficiente hoje para guardar sequer uma fotografia produzida em alta resolução). Ampliar as fotos no papel era uma decepção, já que os primeiros sensores digitais eram muito inferiores aos filmes em termos de absorção de luz.
Muitas câmeras mais novas, mesmo as mais simples, produzem imagens com pelo menos 10 Mpixels ou 12 Mpixels --o suficiente para que uma fotografia seja ampliada do tamanho que o consumidor desejar. Com a concorrência cada vez mais acirrada, os fabricantes estão se esforçando para inovar. As máquinas estão ficando menores, mais leves, mais bonitas, mais coloridas (o cor-de-rosa é um enorme sucesso) e cheias de funções inovadoras: há câmeras que se conectam à internet via Wi-Fi, o que dispensa o computador para fazer upload das fotos para as redes sociais; outras fazem imagens tridimensionais; alguns modelos possuem telas na parte da frente, para facilitar a vida de quem gosta de fazer autorretratos; e existem equipamentos à prova d'água e que resistem a quedas, entre outras bossas.
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