Ruth marinho e Ulysses Guimarães, Angra dos Reis (RJ)
O leitor já viu a fotografia do banho de mar do general Ernesto Geisel no Havaí ou a de Tancredo Neves, com menos de 10 anos de idade, fantasiado no carvanal de São João del Rei? Essas imagens e de outras figuras importantes na História do Brasil ao longo do século XX estarão na exposição "Álbum de família: a vida privada no acervo do CPDOC", aberta ao público a partir de segunda-feira no Espaço Cultural da Fundação Getúlio Vargas, no Centro do Rio.
Flagrantes da vida pessoal de personalidades como Getúlio Vargas, João Goulart e Ulysses Guimarães fazem parte da mostra, que tem a intenção de revelar o lado íntimo de pessoas acostumadas com a esfera pública e mostrar as mudanças na interação entre pessoas e a fotografia ao longo do tempo. A exposição é dividida em três módulos: Retratos de Família, que expõe as fotos clássicas, em geral feitas em estúdio; Lazer, com fotos de viagens e férias; e Comemorações, que relaciona momentos festivos como casamentos, nascimentos e aniversários.
— Sempre se procurou a dimensão política do acervo do CPDOC — diz a historiadora Mônica Kornis, uma das curadoras da mostra, sobre o arquivo que tem mais de dez mil imagens. — E esse acervo tem como característica ser a reunião de arquivos pessoais que incluem a vida pública e a privada. O foco dessa exposição é trabalhar exclusivamente com as fotos privadas. A nossa ideia foi marcar também a dimensão de ineditismo da maior parte dessas imagens.
Cerca de 150 fotos marcam a passagem do tempo: da austeridade das fotos de estúdio ao momento pré-digital, com a espontaneidade típica das polaroides.
Fotos exibem lado afetuoso de donos do poder
Na exposição preparada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o espectador poderá ver o abraço afetuoso de Getúlio Vargas em seu pai, um momento de reflexão de João Goulart em uma fazenda no Rio Grande Sul e o beijo de Costa e Silva em sua neta, Carla Costa e Silva. Para funcionar como legenda das fotografias, há textos de correspondência familiar e diários. O material dá uma dimensão muitas vezes desconhecida da vida privada dos homens que foram importantes na vida política do país.
Quintino Bocaiúva, um dos mais importantes republicanos na virada do século XIX para o XX, é personagem secundário em uma foto: em visita ao cemitério, parentes se reúnem em torno do seu túmulo e ganham destaque ao posar para a câmera — cada um faz ao seu modo um gesto formal para registrar o momento fúnebre. Hoje, essa situação seria no mínimo estranha diante da mudança da relação das pessoas com a fotografia. O documento póstumo do único civil a cavalgar com o Marechal Deodoro para proclamar a República também está no Espaço Cultural FGV.
— São vários os momentos em que o comportamento das pessoas muda diante do suporte da fotografia. Um interessante é o da invenção da Kodak. A primeira vez em que eu tomei contato com esse fato foi em um diário da filha do Assis Brasil (militar). Ela dizia que estava aproveitando a visita de vários políticos ao pai para tirar algumas fotos, pois o filme acabaria logo. As primeiras máquinas da Kodak já vinham com o filme dentro, com mais ou menos cem fotos cada uma, e, para que ela pudesse ter novamente a câmera disponível para fotografar, teria antes que mandá-la para Rochester, nos Estados Unidos. Lá, eles iriam imprimir as imagens, colocar um novo filme e mandar tudo de volta — conta a historiadora Regina da Luz, também curadora da exposição.
A seleção do material não foi baseada na qualidade técnica da imagem. "A especificidade da foto — seja pelos tipos nela representados ou por sua composição e até mesmo por sua relação com o conjunto selecionado — justifica sua inclusão", diz a apresentação de "Álbuns de família: a vida privada no acervo do CPDOC". Embora haja essa advertência, Regina da Luz se disse impressionada pela qualidade do material selecionado:
— Foi bastante impressionante ver como são boas as fotos doadas pelas famílias.
A entrada da exposição é gratuita e ocorre até o dia 2 de janeiro no Espaço Cultural FGV (Rua da Candelária 6, Centro). Fica aberta de segunda a sexta, das 8h às 22h, e sábado. das 9h às 18h.
Confira, abaixo, mais imagens:
João Goulart e o chimarrão, Rio Grande do Sul
Tancredo Neves (à direita) durante Carnaval em São João
Getúlio Vargas (à esquerda), abaraça seu pai Manuel do Nacimento Vargas.
À direita, seu irmão Viriato Vargas
À direita, seu irmão Viriato Vargas
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