Fonte: O Globo
FOTO AÉREA feita com câmera digital acoplada à pipa Divulgação/Cedaps
A sensação de liberdade ao soltar pipa talvez explique por que a prática é um dos passatempos mais populares. Os garotos aproveitam as férias para colorir o céu. Agora, o agradável vai se unir ao útil. Com bons ventos, aliados à tecnologia e à criatividade, vai ser possível monitorar áreas de risco da Grande Tijuca com o brinquedo, equipado com câmera fotográfica. No projeto do Unicef — mais uma iniciativa para prevenir tragédias —, os jovens moradores de comunidades, depois de capacitados pelo Centro de Promoção da Saúde (Cedaps), identificam os problemas dos lugares onde vivem centenas de pessoas em habitações com grande probabilidade de desmoronamento em dias de temporal.
— A pipa é cultural. Juntar a paixão do brasileiro por soltá-la e a necessidade de um novo olhar crítico voltado para o meio ambiente tornam o projeto promissor — afirma Ives da Rocha, consultor do Unicef.
Material usado é de baixo custo
O projeto chamado “Mapeamento digital de riscos socioambientais guiado pela juventude” usa material de baixo custo, com o objetivo de obter um mapa geral das áreas. Acoplados à pipa de modelo delta, uma câmera digital comum, numa estrutura feita com garrafa PET, registra imagens precisas dos morros e dos arredores.Na fase piloto, cinco comunidades foram escolhidas para participar não só por estarem localizadas em áreas de grande vulnerabilidade, mas também por pertencerem à Plataforma dos Centros Urbanos, outra iniciativa de desenvolvimento comunitário liderada pelo Unicef. Na Tijuca, 26 jovens do Morro dos Macacos já receberam treinamento em outubro. No Morro do Borel, as oficinas começam no dia 13 e vão até o dia 17.
Além da capacitação para levantar as pipas, doadas pelo Public Laboratory for Open Science and Technology (Plots), os adolescentes de cada comunidade recebem celulares equipados com GPS e um aplicativo desenvolvido pelo Mobile Experienc Laboratory, dos EUA, específico para mapas. A tecnologia foi usada no vazamento de petróleo do Golfo do México para calcular os danos causados ao meio ambiente.
— O Morro dos Macacos foi selecionado por ter sofrido muitos danos durante as chuvas de abril de 2010. Cinco pessoas morreram e cerca de 200 ficaram desabrigadas na época — conta Ives da Rocha, que está coordenando o projeto. Segundo ele, só com prevenção e investimento em educação ambiental será possível evitar tragédias.
As imagens feitas pelas câmeras que voam alto, instaladas na pipa, revelam não só problemas de casas em locais irregulares. Também mostram o relevo, o avanço urbano na mata e a quantidade de lixo em barrancos e valas, entupindo ralos e atrapalhando o fluxo das águas das chuvas. Assim, é grande o risco de desastres ecológicos e humanos.
— Os jovens conseguem enxergar a gravidade dos problemas. Eles, por si só, desenvolvem senso crítico e comparam a rotina do morro com outros lugares da cidade — diz a jornalista Debora Dantas, que cobre o projeto para o Unicef.
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