De brincadeira, passei uma flanelinha no avião e ganhei uma gorjeta do piloto
Foto: Douglas Engle
Antes de decolar para um trabalho em Parintins, faço uma brincadeira no hangar da Manaus Aerotaxi. A foto feita pelo fotógrafo e cinegrafista norte americano Douglas Engle é uma alusão a um lado da profissão que muitos não conhecem.
É comum ver a profissão de fotojornalista como uma profissão que, da noite para o dia, vai te possibilitar fechar um contrato que pague todas suas viagens para fotografar em um lugar exótico ou, quem sabe, pessoas super "in" ou "cool". Enfim, para ir para todos os lugares que a mente humana possa fantasiar. Depois disso vai poder desfrutar do glamour e do dinheiro já depositado na conta corrente muito antes de chegar em casa.
Creio que esse pensamento seja bem difundido pelo fato de que a grande maioria dos fotógrafos costuma falar das dificuldade em campo para obter uma imagem, o que acaba trazendo um romantismo a profissão. Mas poucos costumam falar dos problemas relacionados ao valores pagos pelo mercado editorial.
Também não vejo comentários sobre a dificuldade que o fotógrafo enfrenta ao para produzir um material de qualidade no tempo de produção imposto por algumas revistas e jornais.
O que muitos não sabem é que são pouco nomes no mundo e quase ninguém no Brasil tem condições de arcar os custos para um fotógrafo ficar no campo tempo suficiente para produzir um material de qualidade. Na maioria das vezes os fotógrafos brasileiros são lançados à sorte e lá, além de fotos, eles tiram leite de pedra.
Leis de incentivo à cultura
A ilusão se desfaz quando você percebe que, na fotografia, a única possibilidade de conseguir isso é submeter-se a projetos que se enquadram nas leis de incentivo à cultura. Geralmente as fotos produzidas dessa forma são usadas para fins institucionais de alguma empresa e muito provavelmente você teria que mudar o conteúdo do projeto para agradar o financiador.
A luz no fim do túnel para a alegria de todos é que hoje é possível dar asas aos seus projetos pessoais através de financiamentos independentes e mais democráticos. Um exemplo é o trabalho do fotógrafo freelancer Hans Georg que inscreveu o seu projeto Foto Escambo no site de financiamento coletivo Catarse para conseguir participar do Foto Rio. Esse site possibilita que projetos pessoais sejam inscritos para receber financiamentos, um tipo de "vaquinha", em que as pessoas que têm interesse em determinado projeto doam uma grana para viabilizá-lo.
Um exemplo: Hans tem um projeto na cabeça - e muitas vezes no papel - mas não dispõe do valor total para realizá-lo. Eu, um doador em potencial, gostei de sua proposta e tenho com ajudá-lo, pode ser com R$ 50 ou com R$ 100 sem que esse valor me comprometa no final do mês.
Esse tipo de ajuda precisa ser difundida e apoiada, pois aqui há a possibilidade de contribuir com o trabalho de profissionais independentes e assim também sacudir o mercado brasileiro, estimulando profissionais que, ao receberem ajuda, se sintam valorizados. Talvez essa seja a única forma de os profissionais serem mais humildes dando um basta na cultura egocêntrica onde pessoas passam mais tempo tentando dizer o quantos são bons do que realmente produzindo algo de relevância para nossa sociedade.
Fonte: Rodrigo Baleia
National Geographic.com. Para acessar a página original, clique aqui!
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