Enio Leite é o fundador da Escola Focus, uma das mais tradicionais escolas de fotografia do país. Em entrevista ao FOTOCOLAGEM o professor comenta sobre os desafios da profissão, necessidade de adaptação ao mercado e, claro, a importância da formação educacional do jovem fotógrafo. Confira!
Foto: Divulgação
FOTOCOLAGEM: Primeiro gostaria de saber um pouco sobre a história da Focus. Como e quando surgiu?
ENIO LEITE: A Focus Escola de Fotografia começa em 26 de janeiro de 1975, quando fui convocado pela diretoria da FE Comércio para viabilizar Novos Cursos de Fotografia no antigo Sesc-Pompéia, com o propósito de atender á demanda dos comerciários e moradores do bairro da Lapa e adjacências. Já ministrava cursos em outras unidades do SESC e também do SENAC.
Já no inicio de 1975, com a iminência da reforma do SESC, o constante aumento de alunos, falta de espaço físico adequado, aliada á carência de instituições em ensino profissionalizante, me motivaram fundar a primeira escola de ensino técnico em Fotografia no Brasil. Com novos estúdios, laboratórios, salas de Aula, devidamente equipadas, empréstimo de câmeras profissionais para os alunos e apostilas atualizadas. Ao mesmo tempo novos professores foram convidados para complementar os corpos docentes da escola como Antonio Carlos D´Avila, João Bittar, João Musa, Jorge Rosenberg, Jean Solari, André Douek, Millard Schisler, Thales Trigo, Klaus Mitteldorf, Dimitri Lee, entre outros. A partir de 1992, quando voltei da Suíça, introduzi, com o apoio de Antonio Cezar Pereira, da T.Tanaka/Nikon a fotografia digital no Brasil, com as primeiras câmeras, scanners e primeiros cursos de fotografia digital.
A fotografia analógica e digital funcionou lado a lado até dezembro de 2010. A falta de abastecimento de filmes, papéis fotográficos, químicos, associados aos constantes aumento de preço, nos obrigaram a dedicar somente a fotografia digital. No módulo 1 os alunos ainda tem sua primeira aula em campo com filme colorido que são revelados fora da escola. O filme ainda é importante. Faz com que o aluno pense antes de fotografar. Obriga-o a questionar se vale a pena apertar o botão ou não para aquela cena, aquele assunto.
Pioneira na América Latina na implantação de cursos de “Pin Hole” (Câmera de Orifício), Processos Alternativos “Low Tech”, Processo Direto - Cibachrome, Tecnologia Digital (“Hi Tech”), Direitos Autorais e Direito de Uso de Imagem.
Compreender as mudanças geradas pelos últimos avanços tecnológicos, as questões técnicas e conceituais, novas tendências de mercado, globalização, a estética pertinente à linguagem fotográfica, os fundamentos éticos, jurídicos, inerentes à fotografia, são requisitos essenciais para que você possa ingressar deste mercado de trabalho pela porta da frente.
A proposta da Focus Escola de Fotografia é oferecer aos fotógrafos e aos alunos interessados em fotografia, uma formação consistente e equilibrada entre conceitos teóricos e atividades práticas. Os cursos profissionalizantes de fotografia são constantemente atualizados e prepara o aluno para sua formação técnica, artística e criativa para a execução de fotografias com a alta qualidade exigidas pelo mercado. Seja nos cursos presenciais, individuais ou a distancia, para falantes da língua portuguesa.
Pesquisa constante e atualização. Esta é, em suma, a síntese da fórmula que a Focus E desenvolve desde a sua fundação, em 1975. Transmitir ao aluno o que a fotografia tem de melhor e estar sempre antenado as exigências do mercado de trabalho.
FOTOCOLAGEM: Qual o perfil dos alunos?
ENIO LEITE: O perfil é heterogêneo. Temos interessados que veem na fotografia, uma forma fácil de ascensão social. Há outros que buscam na fotografia uma nova profissão, mais prazerosa e com qualidade de vida. O publico predominante é jovem entre 16 a 35 anos.
Há casos interessantes. Por exemplo, no mercado de trabalho de TI e informática em geral, o profissional perde-se a empregabilidade quando atinge a idade de 40 anos. Mas, para a fotografia, essa idade já denota conhecimento sedimentado, respeito e maior expediente de trabalho. Muitos deles nos procuram. Já tive alguns alunos que nos procuraram assim que se aposentaram. Trabalhavam na área financeira, tinham hora para entrar em seus empregos, mas não tinham hora para sair. Começaram a estudar por paixão pela arte. Mas já no meio dos módulos, pegavam um trabalhinho aqui, outro lá e já estavam profissionalizados antes do término do curso.
FOTOCOLAGEM: Como você enxerga o ensino de fotografia no Brasil? E especificamente em São Paulo?
ENIO LEITE: O advento da fotografia digital popularizou definitivamente a fotografia. A dez anos atrás, por exemplo, tínhamos uma câmera digital por família. Hoje, cada membro dessa família tem duas câmeras digitais, além do celular com câmera. Nunca se fotografou tanto. Nunca se compartilhou tantas fotos. A mais nova simbiose do mundo digital, Facebook & Instagram já demonstra isto.
Quando começamos, havia três escolas. Hoje já são mais de 100 escolas e cursos, na grande São Paulo. Há excelentes escolas, excelentes professores, não devemos nada a fotografia internacional. Ao contrário, eles é que vem aprender conosco. A participação das escolas paulistanas no Student Project da World Photo São Paulo 2012, em janeiro último,no MIS, Museu da Imagem e do Som São Paulo ilustrou bastante este caso. A mesma mostra esteve em Londres, no mês passado.
Fomos os pioneiros em ensino técnico em São Paulo. Os paulistanos carregam uma cultura fotográfica privilegiada. O primeiro Daguerreótipo surge no porto do Rio de Janeiro, em janeiro de 1840, seis meses após seu lançamento em Paris. Foi apresentado, em seguida, para D Pedro II, que logo se tornou o patrono da fotografia no Brasil.
O ciclo do café já estava em expansão em São Paulo. Os Barões o exportavam e importavam de tudo, até água de Paris, pois aqui ainda não havia saneamento básico. O dinheiro estava concentrado mas mãos dos paulistas. E a fotografia veio, atrás dele.
O numero de fotógrafos que vieram da Europa, para trabalhar no Brasil, foi significativo, conforme levantamento já feito na casa do imigrante, no Brás, São Paulo. Isto quer dizer que o mercado por lá já estava saturado.
Na primeira década de vida, atendíamos alunos de todo o Brasil, por meio de workshops individuais, de curta duração. Hoje a maioria destes interessados já preferem nossos cursos on line. Temos tmbém brasileiros, residentes no exterior ou mesmo falantes da língua portuguesa que optam por esta modalidade de curso.
FOTOCOLAGEM: Você acha que a informação sobre fotografia é acessível no País?
ENIO LEITE: Depois do advento da internet toda a informação passa a ser possível. O Google se torna uma espécie de oráculo da nova modernidade. Caso o interessado queira informações mais especificas, pode comprar livros e, livrarias virtuais internacionais, como a www.amazon.com ou nas mega livrarias brasileiras. A questão não se resume apenas ao acesso à informação, mas alguém devidamente capacitado que possa orientá-lo o que ler, onde ler e como aplicar e desenvolver estes novos conceitos. E por fim direciona-lo, seja para a fotografia artística ou profissional.
Para você, qual a importância dos diplomas para o fotógrafo profissional?
Ouço esta pergunta, pelo menos 10 vezes por dia. A questão não é o diploma em si. Há exércitos de profissionais liberais formados em Direito, Publicidade, Medicina, Odontologia, Jornalismo, Comunicações, Comércio Exterior, Administração, Arquitetura e outras áreas que não conseguem colocação no mercado. O que pesa é o que cada um aprendeu, como se desenvolveu ,os estágios feitos, como se destacaram durante o processo de aprendizado. Um bom currículo não abre portas, mas coloca seu sobre elas. Para aqueles que ingressam no mercado de trabalho hoje há duas opções: possuem uma grande rede de relacionamentos ou vão acabar quarteirizados. No site da Focus, por exemplo, temos um link http://focusfoto.com.br/categoria/classificados/empregos/ para empregar tanto alunos matriculados, como alunos já formados. Acho importante que o estudante, enquanto estuda, possa trabalhar aprender mais, custear seus estudos e criar sua própria rede.
O diploma da Focus, por exemplo, faz com que nosso aluno, consiga entrar no mercado de trabalho em seis meses e disputar em nível de igualdade com profissionais autodidatas que estão ai há mais de 10 anos. A formação acadêmica ajuda a separar o joio do trigo. Há muito profissional curioso, sem qualquer conhecimento técnico, contaminando e depondo contra a profissão. O diploma ainda faculta o aluno a obter seu registro Mtb de fotógrafo profissional. Não confundir com Mtb de repórter fotógrafo, uma especialidade dentro da carreira de jornalista.
FOTOCOLAGEM: Como você avaliaria os cursos de bacharelado em fotografia no Brasil?
ENIO LEITE: Estudei lá fora, tenho dois filhos formados em fotografia, pelo RIT, Rochester, Nova York. Curso Superior de Fotografia em dois anos não é curso. Os americanos o denominam por “Junior College”, coisa sem muito valor. O aluno tem pouco contato com a área. Lá os bons cursos duram entre 5 a 6 anos.
FOTOCOLAGEM: Qual sua avaliação sobre o boom de workshops e cursos de curta duração que ocorreu nesses últimos anos?
ENIO LEITE: Este boom era inevitável, com a popularização da fotografia e com advento de novos mercados como o E-Commerce. Vejamos por exemplo, a pizzaria delivery perto de sua casa. Há 10 anos, seus folhetos eram impressos em papel sulfite, de baixa qualidade, com duas cores no máximo e traziam preço das pizzas promocionais. Hoje os mesmos impressos são em papel couché, ilustrados com fotos. Neste intervalo de tempo, a concorrência aumentou e nela cada um teve que se diferenciar, apresentar o melhor visual para se manter no mercado. Hoje todos precisam de uma boa foto! Até para ilustrar seu currículo. Foto 3 x 4 não serve, tem que ser produzida em estudio A demanda aumentou muito, geraram novas oportunidades de trabalho. Estive em Londres no ano passado. Lá lançaram o “Photo Sudio Express”. Um pequeno estudio para atender clientes que precisam de fotos técnicas em fundo branco ou cinza para catálogos, folhetos, sites, cartões de visitas, etc. O cliente já sai com a foto tratada, em pendrive, no tamanho e resolução exata para seu uso. Só falta trazer isto para cá.
Por outro lado há muitos oportunistas que se aproveitaram deste boom. Fotógrafos amadores com um pouco mais de conhecimento, em relação a media, estão promovendo este perfil de curso. Há também fotógrafos profissionais, que apesar de tudo, não conseguem trabalho e se aventuram a dar aulas de fotografia. Para eles é mais fácil criar cursos e workshops de curta duração. Um bom curso implica disponibilizar bons equipamentos, boa didática, preparar boas apostilas, referencia bibliográfica, saber orientar adequadamente os alunos e oferecer plantões de dúvidas. Tenho ex- alunos que me ligam no sábado a três horas da manhã, com duvidas técnicas nos novos trabalhos que estão desenvolvendo. A função do professor não acaba com termino do curso, ela começa. Muitos alunos começam a ter dúvidas no início de sua profissão. A função do professor é apoia-los, ajuda-los a dar seus primeiros passos. Magistério é uma vocação, uma missão.
FOTOCOLAGEM: Você acha que o mercado de trabalho tende a exigir cada vez mais especializações e cursos?
ENIO LEITE: Sim e não. Temos, por exemplo, o exemplo de fotógrafos de estudio nos Estados Unidos. Alguns são especializados em fotografia de Pets, animais domésticos, mas também atua em moda, book, publicidade, em casamentos e eventos sociais. Tanto lá como cá, o cliente é acomodado. Já que ele é quem está pagando, prefere deixar tudo na mão de um profissional, para que no final possa negociar prazo e um bom desconto. O fotografo profissional é aquele que sabe atender seu cliente e consegue fidelizá-lo.
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