Fonte: FFW
Inez van Lamsweerde e Vinoodh Matadin são o casal de fotógrafos holandeses que há cerca de 20 anos frequenta o topo da moda global com um trabalho que une beleza, inovação, colaborações criativas e um entendimento total do mood do trabalho. Eles estão por trás de imagens históricas da moda, seja nos ensaios para revistas como a “Vogue” francesa e “V” ou para campanhas de Gucci, Calvin Klein, YSL e Chloé. Quem ama moda, ama Inez & Vinoodh.
Agora a dupla faz uma visita ao Brasil. Eles vêm para a abertura da exposição “Pretty Much Everything”, que será montada aqui especialmente para a SPFW. Em uma conversa por telefone, Inez fala sobre sua carreira, sua relação com Vinoodh, o fim das revistas e sua modelo preferida, que é brasileira. Muito simpática, é uma apaixonada por fotografia e por Vinoodh, com quem tem um filho de oito anos que já fotografa por aí. Uma outra parte da entrevista pode ser lida na próxima edição da Mag!, que será lançada durante a SPFW.
Com vocês, Inez van Lamsweerde.
Como é o processo de trabalho entre vocês? Para quem a modelo olha na hora da foto? (risos)
É muito orgânico, nós fotografamos ao mesmo tempo. Vinoodh usa uma câmera Canon e eu uso uma Hasselblad. Eu dirijo a pessoa que está sendo fotografada, seja uma modelo ou um artista, uma celebridade. Ela olha para a minha câmera, há um contato direto entre a pessoa e eu. O Vinoodh fica mais móvel, anda pelo set e traz outro clima para a foto. O ponto de vista dele é mais voyeurístico. Às vezes fica muito claro quem tirou a foto, mas não importa se a imagem escolhida é minha ou dele. O importante é ter boas fotos, é fazer as imagens mais maravilhosas que pudermos.
Vocês têm um estilo de fotografia muito bem definido. Quanto tempo demorou até você encontrar seu próprio estilo?
Sempre soube o que queria. Já na escola sabia que essa seria a minha direção, uma coisa meio imperfeita na foto, como se ainda faltasse algo. Minha mãe é uma jornalista de moda, então desde o início minha atenção se voltou para esse lado. E através da moda eu comecei a traduzir comportamentos e a desenvolver minha linguagem. Mas depois que você acaba de estudar, a responsabilidade aumenta muito, então eu sempre aconselho as pessoas a ficarem na escola o máximo possível, para poder se dedicar mais à arte e poder experimentar mais também.
Vocês trabalham muito com o escritório de design MM Paris. Como funciona essa parceria?
Fomos apresentados por amigos em 1995. E aconteceu que a gente tinha as mesmas ideias, o mesmo humor e inspirações parecidas. Na época nós fazíamos o catálogo de Yohji (Yamamoto), que era um verdadeiro luxo naqueles dias, pois tínhamos muito tempo para preparar um shooting. Há muito respeito entre nós e sabemos que sempre que trabalhamos juntos, atingimos um novo nível. É uma colaboração criativa maravilhosa.
Vocês estão por trás de campanhas importantes, como as da YSL e da Chloé, há muito tempo. E, ao contrário de outras marcas de luxo, as fotos da Chloé, por exemplo, nunca são só lindas. São cheias de movimento, as modelos têm sempre muita atitude ou há algo de estranho no ar.
Vamos tomar como exemplo as campanhas da Chloé. A essência dessa menina é de glamour sem esforço, natural. Esse é o DNA da grife. As campanhas são inspiradas em fotos de documentários, fotos acidentais. Tentamos criar uma atmosfera para esses momentos que aparecem de repente e são difíceis de acontecer. Então algumas vezes tocamos uma música bem maluca, bem alto, e mandamos as meninas dançarem. Parece coisa de momento, mas é muito pensado. Fotografamos durante três dias, no caso da Chloé, para conseguirmos a foto ideal. Mas tem campanhas que fazemos 12 fotos em um dia e já temos a imagem.
Vocês têm liberdade total quando fotografam para publicidade?
Sim. Claro que tudo é conversado antes, assim como nos ensaios para revistas. No caso dos anúncios, é imprescindível que tenhamos liberdade porque nós podemos trazer algo a mais que vai diferenciar a marca das outras. E hoje, mais do que nunca, as grifes têm que ter muita personalidade. Já quase não há mais divisão entre o high ou o low fashion. Posso fotografar para a H&M ou para a Jil Sander. Qualquer marca pode chamar o fotógrafo que quiser, então a gente tenta criar uma imagem que faça a grife se destacar. E também tomamos o cuidado de mostrar as roupas da melhor forma possível. Eles sabem que podem contar com a gente inclusive nesse sentido.
A gente ouve muito que as revistas irão acabar ou diminuir drasticamente. Qual você acha que será o caminho das publicações de moda?
Acho que sempre haverá publicações impressas, mas elas terão que ser mais extremas e focadas em quem são os seus editores. Porque a gente pode achar tudo na internet. Eu posso ver todos os sapatos do Jimmy Choo, mas qual o sapato que a Emmanuelle Alt (editora da “Vogue” francesa) acha o melhor? É isso o que eu quero saber. O importante é quem edita a informação para você e ainda a coloca em um formato maravilhoso.
Qual é a sua relação com a internet?
Internet é gratificação instantânea. Eu tenho tumblr e twitter e, com essas ferramentas, alcanço muito mais gente do que com uma “Vogue” francesa, por exemplo. Faço do meu tumblr a minha própria revista. Vejo a internet como uma grande beneficiadora do trabalho do fotógrafo.
Vocês fotografam muitas celebridades. Como percebem esse fenômeno?
Eu não gosto de celebridades nas capas de revistas. Acho que nem chega a ser justo colocar moda em uma celebridade, pois não podemos esperar dela(e) o mesmo efeito que uma modelo pode nos dar. Ou é um grande músico, uma grande atriz, um escritor… Não dá para achar que eles também vestirão aquilo tudo com naturalidade ou projetar o nível de beleza que uma modelo projeta.
Você já disse uma vez que ama a Raquel Zimmermann, que ela é a sua modelo preferida.
(risos) Não há nenhuma modelo que pode ser tantas mulheres como ela. Raquel não tem medo de nada, não está preocupada em parecer bonita, só quer uma boa foto. Ela tem total controle sobre seu corpo e pode ser qualquer mulher, qualquer homem, qualquer animal. Não tem ego. Além disso, é uma pessoa alegre, maravilhosa e sempre entende a proposta do trabalho. Nós temos uma relação de confiança total. Eu poderia facilmente fazer essa exposição enorme só com fotos dela.
Ela te conta algo sobre o Brasil?
Ela fala sobre a família, os desfiles da Animale e, agora que eu estou indo praí, me dá dicas de lugares. Eu tenho poucas referências visuais do Brasil, meu contato é mesmo através das modelos, Raquel, Adriana Lima, Gisele… Mas estou muito animada de poder visitar o Brasil. Quero ver algo novo, que nunca vi antes. Acho que vai ser maravilhoso.
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