A cada ano, cresce o número de pessoas que visitam atração turísticas pouco convencionais, como Auschwitz e Chernobyl. Conhecido como "turismo negro", essa atividade engloba locais abandonados ou associados a grandes tragédias. Outros roteiros famosos deste tipo de passeio incluem visitas a masmorras medievais, cidades destruídas por guerras e há até quem pague para dormir em celas abandonadas da KBG, a polícia secreta da antiga União Soviética. Por ser um mercado de nicho, ainda há poucos números a seu respeito. No entanto, em Auschwitz, nem a forte crise internacional espantou os turistas. Em 2006, foram 1 milhão de turistas e, no ano passado, 1,3 milhão.
Classificado como "imoral" por seus críticos, o turismo negro é o tema da exibição do fotógrafo inglês Darren Nisbett. A mostra "Chernobyl's Zone of Alienation" está em cartaz na Rhubarb & Custard, uma galeria fotográfica britânica em Birkshire, e mostra imagens desoladoras de um dos pincipais points do turismo negro: as cidades fantasma no entorno da usina nuclear de Chernobyl.
Além de Chernobyl, você também já esteve em Auschwitz. Por que você acha que passeios de turismo negro têm ficado cada vez mais populares?
Eu acho que a maioria dos turistas está interessada na história desses lugares. Mas tudo depende do ponto de vista. Auschwitz é uma parte horrível da nossa história e é importante que o mundo jamais esqueça disso. Chernobyl se tornou uma cidade fantasma graças a uma tragédia, assim como Pompéia, que hoje é patrimônio mundial da UNESCO. Há vários castelos no interior da Inglaterra onde crianças brincham hoje em dia, mas que, no passado, foram palco de inúmeras chacinas e banho de sangue. Acho que é normal do ser humano olhar para o passado, seja simplesmente pelo conhecimento ou para romper limites das suas formas de expressão, como a fotografia, a pintura ou a literatura.
"Auschwitz é vitima de sua própria popularidade. É tão cheio que mais parece um parque de diversões"
Por que você escolheu Chernobyl como matéria-prima do seu trabalho?
Quando eu tinha 11 anos e o vazamento da usina nuclear aconteceu, eu era novo demais para ter noção da escala daquele desastre. Mesmo assim, a história de Chernobyl reapareceu várias vezes para mim, seja em filmes ou video-games. Quando eu descobri que era possível realmente visitar a área de isolamento, não perdi tempo. Na primeira vez, fui mais pelas fotos, com uma fascinação meio mórbida pelo lugar. No entanto, na minha segunda viagem, senti mais afinidade com a cidade e fiz questão que as minhas fotos realmente fizessem algum bem e ajudassem as população dali a receber algo através de eventos de caridade, já que muitas áreas ainda estão expostas à radiação.
Como foram suas viagens para Pripyat (cidade do cinturão de isolamento de Chernobyl) e Auschwitz? Qual é a sensação de visitar lugares com histórias tão "pesadas"?
Auschwitz é vítima de sua própria popularidade. Quando fui lá, havia um número muito grande de guias que acompanhavam grupos grandes de pessoas. Parecia um parque de diversões. É difícil achar um lugar tranquilo para refletir sobre o que aconteceu ali. Pripyat, por sua vez, é desoladora de tão quieta. É como uma cidade presa dentro de uma cápsula do tempo por 25 anos. A completa falta de pessoas na região torna a experiência ainda mais impactante. No entanto, o lugar mais arrebatador que já visitei foi um museu de minas terrestres, no Camboja. O local tinha uma mostra de minas e fotos da carnificina que elas infligiram, além de dados sobre os incidentes com esse tipo de explosivo e o número de minas ativas em todo o mundo. É algo chocante.
Em algum momento, você se sentiu em perigo durante a viagem a Chernobyl? Você considera um lugar seguro?
O nível de radiação ao qual você é exposto no período de dois dias está dentro dos limites aceitáveis para seu corpo. Li bastante coisa a respeito e peguei a opinião de outras pessoas sobre o assunto. Eu também fiquei preocupado, fiz até uma adaptação no tripé da minha câmera para não levar poeira radioativa para casa. Mas, uma vez lá, me senti bem seguro. Os guias lembram o tempo todos dos riscos e levam um contador Geiger, que mostra a radiação do lugar. Isso passa bastante segurança.
Fotógrafo também visitou o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia
Há muito questionamento em torno do "turismo negro", inclusive acusações de que ele não seria ético, já que é focado em mortes e tragédias. O que você acha desse tipo de crítica?
Como eu cheguei a dizer antes, acho que é muito importante não deixar que esses lugares sejam esquecidos. Hoje, as pessoas visitam Chernobyl pela mesma razão que visitam Pompéia: são cidades paradas no tempo, uma chance única de ver como era o cotidiano destes locais, como aquelas pessoas viviam, como era a arquitetura, etc. Visitar esses lugares não é celebrar tragédias, e sim vivenciar emoção de pisar em locais históricos da humanidade e lembrar a razão pela qual eles não devem ser esquecidos.
E os moradores dessas regiões desoladas? Como eles reagem aos turistas?
Muitos ficam se perguntando o que nós estamos fazendo ali, mas sei que muitos deles ficam felizes por saberem que aqueles lugares não estão completamente esquecidos. Além disso, é uma excelente fonte de renda para a população local. Os donos de hotéis, guias e comerciantes das cidades no entorno do cinturão de isolamento de Chernobyl lucram muito com os turistas. O mais importante, no entanto, é a lição que cada lugar passa. Os turistas saem dali com uma lição de história e de vida.
E para seu próximo destino? Algum lugar em mente?
Não se encaixa exatamente no conceito de turismo negro, mas tenho muita vontade de visitar algumas fábricas abandonadas na região de Detroit. Também amaria poder visitar a Ilha de Hashima, na Costa do Japão.
Fonte: Ocioso
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