O fotógrafo argentino Alejandro Kirchuk registrou durante três anos a luta de seus avós maternos contra o mal de Alzheimer, doença da qual sofria sua avó, Mónica
Foto: Alejandro Kirchuk
Foto: Alejandro Kirchuk
O fotógrafo argentino Alejandro Kirchuk, de 24 anos, registrou durante três anos o cotidiano dos seus avós maternos, após descobrir que a avó travava uma batalha contra o Alzheimer.
A série de fotos revela as mudanças no comportamento da avó, Mónica, e o amor do marido, Marcos, que após o diagnóstico da doença, em 2007, deixou tudo para acompanhá-la até a morte, no ano passado.
"Os protagonistas (desta série) são meus avós. Mas principalmente ele e seu amor por ela", disse Kirchuk à BBC Brasil.
"Para mim, a atitude dele foi um descobrimento especial e que mostrei nas fotos".
A obra foi chamada de La noche que me quieras e ganhou o primeiro lugar do concurso World Press Photo 2011 na categoria "Vida cotidiana". Segundo o fotógrafo, o título é uma referência ao verso que a avó cantava mesmo quando a doença já estava em estágio avançado, do tango El día que me quieras, famoso na voz de Carlos Gardel.
"Isso confirma que os dois viviam uma história de amor", afirmou Kirchuk.
Mónica morreu aos 87 anos de idade e Marcos, que é médico aposentado, tem 89 anos. Ambos ficaram casados durante 65 anos.
Registro detalhado
Kirchuk contou que tirou centenas de fotos do casal. A seleção que enviou ao concurso mostra desde os primeiros momentos da avó com os sinais da doença degenerativa até a etapa terminal.
Quando ele iniciou o trabalho, Mónica sofria de Alzheimer havia dois anos mas levava uma vida quase normal. Porém, recordou o fotógrafo, com falhas na memória.
"Às vezes, ela me reconhecia e às vezes, não. Com o tempo, já não me reconhecia mais. Mas à sua maneira reconhecia meu avô que a acompanhou em cada detalhe do cotidiano."
O fotógrafo diz que a imagem "mais forte" de sua avó é um retrato tirado bastante de perto, quando ela já estava abatida, no ano passado. A foto da avó com olhos que parecem marejados foi tirada dois ou três meses antes de sua morte.
"Era como ela olhava o mundo. Um olhar triste que marcou seu último ano de vida", disse.
Homenagem ao avô
O desfecho da obra é uma imagem de Marcos sozinho olhando o jardim da casa onde morou com Mónica. O fotógrafo registrou e acompanhou Marcos em todos os momentos, inclusive levando flores para a avó no cemitério onde Mónica foi sepultada.
"Esta série é uma homenagem a ele. Ele ficou com ela até o último minuto."
Quando perguntado sobre o que o avô achou do projeto, Kirchuk respondeu que, "no início, ele achou estranho".
"Mas depois soube entender a importância do registro deste amor. E de se poder mostrar ao mundo que este trabalho pode estimular que idosos sejam apoiados em casa e que não sejam enviados para um asilo", afirmou.
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